terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Reinaldo Azevedo na Veja e a "Cultura da Periferia"

Desde que li este artigo senti muita vontade de comentá-lo. Minhas atribuições não me permitiram fazê-lo quando eu queria, e, essa vontade ficou latente esperando eu poder sentar e escrever.

Esse artigo me fez lembrar um livro em que a universidade de minha cidade, UNIVALI (mesmo que eu já não frequentasse os bancos escolares de curso superior) o incluiu "como um livro a ser lido" naquele ano (acho que 1995-1996), disse-me meu irmão. Comprei o livro e o li.

O livro foi escrito pelos únicos representantes credenciados da imprensa no Fórum Mundial sobre Globalização, que reuniu no Vale do Silício (se não me engano) chefes de Estados das grandes potências, representantes de grandes conglomerados da indústria, da imprensa, das finanças, etc. estou escrevendo o que me recordo, não tive tempo de pesquisar sobre este livro que hã muito li e que jamais saiu de minhas reflexões e às vêzes que cabe eu o cito. Mas o que me deixou perplexa é que os "grandes" e verdadeiros representantes do poder econômico e político ali reunidos se reuniram para tratar principalmente sobre a sociedade que eles chamaram de "Sociedade 20/80", ou seja, só 20% da população mundial produziriam todos os bens e riquezas, teriam trabalho e consumiriam estes bens e riquezas. O restante da população, 80%, não teriam trabalho e viveriam às margens (diga-se, na periferia). E, a discussão ficou em torno do que fazer para "entreter" esta imensa parcela da população para que não se perdesse o controle dessa massa de excluídos.

Surgiu mais forte o terceiro setor com as ONGs e seu trabalho comunitário nas periferias de todo o mundo, financiado pelo dinheiro dos poderes econômico e político mundiais. Criando a "cultura da periferia" como denominou o Reinaldo Azevedo na Veja. Mantendo à margem, nas periferias deste mundo, uma imensa parcela da população mundial sem oportunidades de sair dali e vir para o "centro". Talvez alguns saiam das perifrias para fazer parte desses 20% se situando no limiar entre os 20% e os 80%. Às vêzes me pergunto se também a classe média que deve fazer parte desses 20% da população não tem um "certo conforto" (se comparado aos de piores condições sociais das periferias) como forma de entreter esta parcela da população mais esclarecida, mas que não terá também condições de sair deste limiar entre os 20% e os 80%.

Na primeira fase do Programa da Regina Casé sobre periferia, me chamou atenção a enorme estrutura de palco e som, em Belém com artistas das periferias e com uma multidão de gente da periferia assistindo, dançando e cantando. Quem financia estes eventos? Quem financia estes grupos de artistas da periferia que até gravam sem selo seus CDs e DVDs. Pensei, voltando ao livro, que ali estava caracterizado o "entreter" , centro das preocupações no Vale do Silício.

Agora com o programa da Regina Casé pelas periferias deste mundo podemos perceber que grande parte da população mundial já vivem às margens da sociedade do "centro". Não sei qual a agenda oculta da Regina Casé, mas seu programa mostra que manter às margens, nas periferias, uma grande parte da população faz com que nasça uma cultura própria, com formas inerentes às suas consequentes leis e a seu status quo.

Não sei se há interesse em "salvar" essa gente da periferia (se isso for possível com o capitalismo ou com o socialismo, tanto faz, o que importa mesmo é o poder econômico e o poder político a serviço deste) ou se é medo de conhecer o que é mostrado o que se está criado nas periferias deste mundo.

Mudando um pouco de assunto, também quis falar sobre a absolvição do Renan Calheiros (esta a mais recente absolvição corporativista do Congresso Nacional. Vou ser suscinta: onde é o lugar de ladrões? Por que ser ladrão do dinheiro público e enriquecer com o uso ilícito e indevido dele não leva estes ladrões pra cadeia aqui no Brasil? Onde estão as Instituições do Brasil tão proclamadas livres que não são capazes de transformar essa sociedade numa sociedade mais igualitária e decente? Onde está o Poder Judiciário (não mais a serviço do poder econômico)?