Sentamos no granito do jardim de um prédio comercial próximo a minha casa, na sombra, sentindo o frescor da brisa que soprava magicamente como se entrasse no espírito que jurava ter a certeza naquele momento existir. Coisa que costumo fazer ainda, talvez como lembrança de infância onde ainda se sentava nas calçadas com os vizinhos para conversar e se usava a rua para brincar.
Como mulheres comentamos a posse de Dilma. E, apesar de tudo, ao longo da conversa, sem querer expressar o que estava no íntimo, ainda querendo ser elaborado com tranquilidade e clareza, confessamos a dúvida do que representa realmente a liderança das mulheres, num mundo marcado para manter as relações de poder do poder estabelecido.
Revivemos alguns poucos momentos vividos ao longo de nossas vidas, nossa infância, adolescência, o período universitário, o trabalho com suas experiencias e seus reveses para a vida, a família, enfim, onde chegamos, quem fomos em cada fase de nossas vidas e quem somos.
Nossa percepção era que o mundo todo a nossa volta nos parecia irreal. Como era 1º de janeiro de 2011, posse da primeira presidente mulher do Brasil, e, ao assistirmos o cerimonial, principalmente, dois momentos nos chamaram a atenção em especial: (i) as manifestações de apoio e de festa dos deputados e senadores e o (ii) discurso de posse de Dilma. Apesar do belo discurso, das palavras proferidas com emoção sincera, que o momento propiciava, a alegria no plenário demonstrada pelos deputados e senadores da grande base aliada, não condizia com as mensagens do discurso. A cada ovação proferida por eles, em partes do discurso, sobre os assuntos mais sérios, primordiais e importantes aos interesses do povo brasileiro, algo de irreal manchava aquele solene momento.
Os interesses de deputados e senadores, como também, dos que ocuparão cargos políticos no novo governo, não condizem com o discurso de Dilma, apesar da emoção do momento.
Deveremos cortar gastos, mas deputados e senadores aumentaram seus salários a níveis irreais. Onde serão cortados os gastos saberemos logo no início do governo que assume. Aí poderemos sentir a verdadeira dimensão do mundo irreal estabelecido entre o discurso e a boa e verdadeira vontade de ver este país ser um país mais justo para todos. Enquanto isso não acontece, nos resta esperar.
Ficamos um pouco caladas, por um momento, como se buscássemos na brisa que soprava para o espírito, uma centelha de certeza de boa vontade dos que têm o poder nas mãos. Todos, não apenas os que governam, têm o poder nas próprias mãos. Se os que governam não mudam, corrigindo os desvios e, se nossas instituições favorecem o status quo, está nas mãos do povo não mais aceitar que façam o que não é justo hoje e para nosso fututo como nação.
Comentamos que no Brasil entretenimento é cultura. Que artistas aqui são nossos intelectuais. A ponto da Globo no Faustão e seus "intelectuais" homenagearem a Hebe Camargo enaltecendo sua vida artística misturando com a pessoal, como se pudéssemos esquecer que o marido dela, Lélio Ravagnani, era o lobista dos governos de Paulo Maluf em SP, onde todo os contratos de empresas com a prefeitura ou com o estado, passavam antes por seu escritório, para negociar o inegociável com o dinheiro público. O que tem a Hebe a ver com isso? Não só por ser mulher deste Sr., mas por que cansava de fazer campanha abertamente para o Maluf em seus programas de televisão, usando sua imagem artística para influenciar grande número de fãs e pessoas desprevenidas, mostrando as más intenções dessa "celebridade", em benefício próprio e do seu grupo (artístico ou não), sem jamais se preocupar com o bem-estar do povo brasileiro.
E, o Faustão do Perdidos na Noite? Se perdeu em algum lugar, ou como dizem alguns: "nínguém muda".
Nesse mundo irreal, onde tudo é relativo, nos resta a certeza de ser o que somos. Cada um sabe no fundo quem é e o que quer para si e para todos.
Ahh... Feliz 2011!