Vejam só o que aconteceu comigo hoje. Estava por volta das 13:30 h (horário de verão), neste sábado 24.11.07, sentada sob a sombra da marquise do edifício onde moro, sentindo o frescor daquela brisa por estar protegida do sol. Já estava lá um gari, se protegendo do sol forte que castiga os que sob ele se aventuram ficar. Era um senhor de uns 60 anos de idade, estava muito vermelho por estar limpando a cidade naquele sol das 12:30h. Faltava-lhe, como me disse, pouco para terminar seu dia de trabalho neste sábado que terminaria às 14:00h. Falamos do calor sob o sol, do extenso percurso que faz todos os dias para realizar seu serviço de limpeza. Trabalha para uma empresa terceirizada pela prefeitura, e, me disse que "ele recebe apenas um salário mínimo mais um sacolão se não tiver falta alguma no mês". Disse-me também que "acredita que a prefeitura paga bem seus patrões que devem ficar com a maior parte e, por isso, lhe pagam tão pouco". Desejamo-nos um bom final de semana e lá se foi aquele homem que falou também que "são raras as pessoas que lhes olham como pessoas e que conversam ou lhes ajudam, mas que elas existem"; e, lamentou "os que não se importam com ninguém". Dentre todas as coisas que em 10 minutos conversamos, houve até uma consideração final, por parte dele, a respeito da vida, que foi: "eles deveriam agradecer que o pobre existe para limpar a sujeira".
Dirão os que acusam ferozmente e com sarcasmos a "nova esquerda latinoamericana" que ele é vítima do proselitismo desta esquerda. Bobagem... Ele representa a parcela que pensa e sabe o que acontece a sua volta, percebe o mundo e seu lugar nele mesmo sem ter podido estudar história, sociologia ou economia (apenas para citar algumas); representa a parcela imobilizada pela força do poder econômico que não lhes dá verdadeiras e concretas oportunidades, sejam pelas políticas da direita neoliberal quanto da nova esquerda latinoamericana, só para ficar restritas às duas correntes que nos são mais próximas aqui.
As desigualdades sociais causadas pela má distribuição de renda não permite que modelo algum de governo, que se esquive de reparar e equilibrar estas diferenças, possa ser legítimo.
A democracia representativa que temos aqui no Brasil já não há sinônimos e adjetivos que se possam usar para se ser um pouco original; resumindo, não representam o povo, representam o interesse do poder econômico e o enriquecimento ilícito às custas do dinheiro público, e, portanto, dinheiro do povo. Sempre, vejam bem, sempre foi assim. Não foi o PT que criou esse circuito de corrupção, mas infelizmente, fez uso dele indiscriminadamente traindo o povo. Para desalento do povo, ninguém é punido. O poder judiciário, juntamente com os poderes executivo e legislativo, faz parte do todo para manter subjugado o povo, sob a força do poder econômico.
Por outro lado, a democracia participativa, da nova esquerda latinoamericana, aparece como uma alternativa, mesmo que como uma falsa ilusão, de que o povo imobilizado já não tem nada a perder.
Enganam-se ou querem enganar os que dizem que um povo deixa-se facilmente enganar. Tanto a direita quanto a esquerda imobilizam o povo não lhes dando alternativas nem sequer possibilidades de transformação para uma sociedade mais igualitária e humanista. Mesmo na sua "ignorância" o povo sabe muito bem distinguir e julgar o que está certo e errado e, como qualquer indivíduo que pertence a uma sociedade, pode optar em caminhar por caminhos diversos.
A democracia representativa da política neoliberal, pelo seu fracasso como sistema de governo, é a responsável pelo avanço da democracia participativa da nova esquerda latinoamericana. E, já dá mostras latentes de seu fracasso, não só aqui, mas em todas as partes do mundo, inclusive na Europa, berço do respeito à propriedade e à liberdade.
Todos os sistemas vivos tendem ao equilíbrio, mesmo que renasçam do caos. Todo o esforço e energia gastos para se manter um sistema num estado metaestável, acabarão se exaurindo, e, forçando à estabilidade. Quem sabe não se exauriram essas forças do poder econômico a favor de poucos? Tudo tem um fim e tudo tende ao equilíbrio.
Não há mais como manter essa brutal desigualdade social sem consequências desastrosas, bem maiores das que já estamos vivendo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário