Estou há três dias tentando entender a tentativa do Governo Lula em identificar a classe média brasileira como preconceituosa; "todo mundo é muita gente", e, em se tratando de classe média no Brasil é muita gente. Na verdade, gostaria que o Governo Lula definisse o que ele considera como a classe média brasileira.
Voltarei à análise da PEA (População Economicamente Ativa), Urbana e Rural, com base no Censo 2005 (último censo):
PEA 2005: 96.000.000 (entre empregados com carteira assinada, empregados sem carteira assinada, militares e estatutários, trabalhadores domésticos, conta própria e empregadores).
Rendimento médio mensal total: R$ 840,50 (entre empregados com carteira assinada, empregados sem carteira assinada, militares e estatutários, trabalhadores domésticos, conta própria e empregadores).
Distribuição dos 40% mais pobres, da população ocupada (A):
Total (A): 30 430 000
Rendimento médio mensal de todos os trabalhos (A): R$ 226,32
Sálarios mínimos: 0,75
Distribuição dos 10% mais ricos, da população ocupada (B):
Total (B): 7 610 000
Rendimento médio mensal de todos os trabalhos (B): R$ 3.579,82
Sálarios mínimos: 11,93
Relação entre os rendimentos médios (B/A = R$ 3.579,82 / R$ 226,32): 15,8.
- Para os 40% mais pobres uma população estimada em 30.430.000 temos um rendimento médio mensal de R$ 226,32 (ou 0,75 salários mínimos).
- Para os 10% mais ricos uma população estimada em 7.610.000 temos um rendimento médio mensal de R$ 3.579,82 (ou 11,93 salários mínimos).
A relação entre os rendimentos médios mensais dos 40% mais pobres de R$ 226,32 e dos 10% mais ricos de R$ 3.579,82 é de 15,8 , i.e., os 40% mais pobres ganham 15,8 vêzes menos do que os 10% mais ricos.
Mas se temos uma PEA de 96.000.000 e se somarmos os 40% mais pobres (38.400.000) e os 10% mais ricos (9.600.000) teremos 48.000.000 (50%). Isto é, os 50% restantes da PEA, ou 48.000.000, estão entre os que recebem um rendimento médio mensal de mais de R$ 226,32 e de menos de R$ 3.579,82. Para a PEA estes rendimentos médios mensais intermediários representam no Brasil a classe média? Está certo concluir assim?
Se nos acostumamos a ouvir a classificação da classe média brasileira em classe média baixa, classe média propriamente dita e classe média alta, e, que as três subdivisões representam a classe média brasileira, i.e., 50% da PEA? 48.000.000?
Vejamos também: os 10% mais ricos, 9.600.000, não representam por si só a classe alta, a que nos acostumamos a ouvir que é de 1%. Mas 1% do que? Da PEA ou da população total? Dentro desses 10% mais ricos, devem estar incluídos a classe média propriamente dita e a classe média alta? Basta observar que basta ter um rendimento médio mensal igual ou acima de R$ 3.579,82 para estar entre os 10% mais ricos da PEA.
Disse o presidente Lula: "Toda vez que a gente tenta ajudar os pobres aparece uma ciumeira".
O Governo Lula parece não ficar muito confortável quando a classe média demonstra insatisfação total com ele (Governo). A classe média brasileira está mais próxima da classe baixa do que da classe alta. Percebe as grandes deficiências da saúde pública, da educação pública, da falta de habitação e de infraestrutura , e, o que essas deficiências representam para todos, pobres e "médios mais pobres" e "médios" e "médios mais ricos". Necessita diretamente desses mesmos serviços públicos.
Disse o Governo Lula, sob as considerações de "assessores graduados" (como está na Veja), que a classe média:
1. "Não teria se dado conta que também está ganhando com o crescimento do país".
Não teria se dado conta? Pergunto: pode a classe média não se dar conta do crescimento real de um país?
2. "Por puro preconceito a classe média 'tradicional' estaria incomodada com a classe média 'emergente' ".
O que é ou quem são a classe média "tradicional" e a classe média "emergente", para o Governo Lula? Não conhecia mais essa classificação que Governo Lula atribuiu à classe média (tradicional e emergente). Onde cada cidadão da classe média se posicionará, na classe média "tradicional" ou na "emergente"? Já que tirando ricos e pobres da PEA ela é simplesmente mais do que a metade?
Se eu fosse Governo, trataria de trabalhar para a classe média também. Como merecem atenção a classe baixa e classe alta neste Governo. Não tem nada a ver com preconceito ou falta de percepção, presidente Lula. Acredito que a classe média queira um país melhor para todos, um país com melhor distribuição de renda, menos desigualdades.
A classe média não quer apenas pagar a conta desse desenvolvimento meia boca, desse enriquecimento ilícito do poder econômico e do poder político. Quer também melhores condições porque a vida é difícil no Brasil (também não é nada fácil) para a classe média.
Realmente, Presidente Lula, seu Governo deve estar muito incomodado com a classe média. Mas lembre-se, ela não recebe nem bolsa família nem bolsa BNDS (como disse Reinaldo Azevedo, apenas para citar o dono desta reflexão, um homem de direita que não sei bem o que ele quer e o que ele defende e, sobretudo, qual sua "agenda oculta"; muitos o chamam de fascista, e, fascismo para mim é crime). E, tenho certeza, por não estar comprometida com as "bolsas" (família e BNDS) e, ser uma parcela bastante representativa da PEA (mais de 50%), é que a classe média incomoda.
Sabe, Presidente Lula, a classe média se sentiu traída por seu Governo desde o seu primeiro mandato. Acreditou na índole e na vontade deste Governo de tornar este país um país melhor para todos, sem corrupção, sem enriquecimento ilicito e sem formação de quadrilha. Mas seu Governo mostrou estar disposto a ceder ao poder econômico, pura e simplesmente, e, dar as costas às necessidades da sociedade brasileira como um todo. Mostrou ser igual a qualquer poder político que se preste: seguir o que determina a cartilha do poder econômico.
Um comentário:
Podia ser pior eu te garanto. Se tivessemos mais quetro anos de PSDB as coisas conseguiriam estar piores.
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